INVERSÃO DA REALIDADE (IDEOLOGIA)
Assim, se o filho de um operário não melhora o padrão de vida, isto é explicado como resultado da sua incompetência ou da falta de força de vontade ou disciplina de trabalho, quando na realidade ele joga um “jogo de cartas marcadas”, e suas chances de melhorar não dependem dele, mas da classe que detém os meios de produção.
Outra inversão própria da ideologia é a maneira pela qual são estabelecidas as relações entre teoria e prática, colocando a teoria como superior à prática, porque a antecede e “ilumina”. As idéias tornam-se autônomas (independentes) e são consideradas causa da ação humana (quando na realidade isso é ao contrário).
A divisão hierárquica entre o pensar e o agir se encontra também na divisão da sociedade, em que um segmento, uma parte da sociedade se dedica ao trabalho intelectual e outra parte (a grande maioria), realiza e se dedica ao trabalho manual. Sob esse esquema, uma classe “sabe pensar”, enquanto a outra parece que “não sabe pensar” e só executa tarefas. Portanto, uma pequena parcela da sociedade decide, manda, porque sabe, e a outra grande parcela da população apenas obedece, porque não sabe (será?).
DISCURSO IDEOLÓGICO E
NÃO-IDEOLÓGICO (contra-ideológico)
O
discurso contra-ideológico tenta desvendar os processos reais e históricos dos
quais se origina a dominação de uma classe social sobre outra, enquanto a
ideologia visa exatamente o contrário, ou seja, a dissimulação (ocultamento)
dessa diferença ou a justificação dela.
A
teoria estabelece uma relação dialética (lógica) com a prática, ou seja, uma
relação de reciprocidade e simultaneidade, e não hierárquica. Explicando
melhor: a práxis é justamente a
relação indissolúvel teoria-prática, de modo que não há agir humano que não
tenha sido antecedido por um projeto (teoria), da mesma forma que a teoria não
é algo que se produza separadamente da prática, pois seu fundamento é a própria
prática (realidade). O ser humano conhece as coisas na medida em que as
produzem daí toda teoria se tornar lacunar (obscura ou oculta), sem o “vaivém” entre o fato e o pensado, entre
o fazer e o pensar.O discurso ideológico impede que o oprimido tenha uma visão própria do mundo, da realidade em que vive, porque lhe “impõe” (direta ou indiretamente) os valores da classe dominante, tornados universais. Além disso, “naturaliza” as ações humanas, explicando-as como decorrentes da “ordem natural das coisas” e não como o resultado da injusta repartição dos bens (acumulados pelo processo de produção histórica ou pela dinâmica social e econômica).
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