domingo, 28 de setembro de 2014

INVERSÃO DA REALIDADE

INVERSÃO DA REALIDADE (IDEOLOGIA)
 A ideologia mostra uma realidade invertida, ou seja, o que seria a origem da realidade é posto como produto e vice-versa; o que é efeito passa a ser considerado causa, o que é determinado é tido como determinante. Por exemplo, a ideologia afirma que existe desigualdade social porque existem diferenças individuais (a desigualdade natural seria a causa da desigualdade social). Ora, a sociedade é na verdade resultado da práxis, e as desigualdades sociais estabelecidas pela divisão social do trabalho e pelas relações de produção é que são causas das desigualdades individuais.
Com isso não desconsideramos as diferenças que de fato existem entre os indivíduos, como diversos níveis de interesse, inteligência, aptidão. Mas, grosso modo, na ideologia a atividade a que cada um se submete aparece como decorrente da competência e não como resultado da divisão de classes.
Assim, se o filho de um operário não melhora o padrão de vida, isto é explicado como resultado da sua incompetência ou da falta de força de vontade ou disciplina de trabalho, quando na realidade ele joga um “jogo de cartas marcadas”, e suas chances de melhorar não dependem dele, mas da classe que detém os meios de produção.
Outra inversão própria da ideologia é a maneira pela qual são estabelecidas as relações entre teoria e prática, colocando a teoria como superior à prática, porque a antecede e “ilumina”. As idéias tornam-se autônomas (independentes) e são consideradas causa da ação humana (quando na realidade isso é ao contrário).
A divisão hierárquica entre o pensar e o agir se encontra também na divisão da sociedade, em que um segmento, uma parte da sociedade se dedica ao trabalho intelectual e outra parte (a grande maioria), realiza e se dedica ao trabalho manual. Sob esse esquema, uma classe “sabe pensar”, enquanto a outra parece que “não sabe pensar” e só executa tarefas. Portanto, uma pequena parcela da sociedade decide, manda, porque sabe, e a outra grande parcela da população apenas obedece, porque não sabe (será?).

DISCURSO IDEOLÓGICO E NÃO-IDEOLÓGICO (contra-ideológico)

O discurso contra-ideológico tenta desvendar os processos reais e históricos dos quais se origina a dominação de uma classe social sobre outra, enquanto a ideologia visa exatamente o contrário, ou seja, a dissimulação (ocultamento) dessa diferença ou a justificação dela.
A teoria estabelece uma relação dialética (lógica) com a prática, ou seja, uma relação de reciprocidade e simultaneidade, e não hierárquica. Explicando melhor: a práxis é justamente a relação indissolúvel teoria-prática, de modo que não há agir humano que não tenha sido antecedido por um projeto (teoria), da mesma forma que a teoria não é algo que se produza separadamente da prática, pois seu fundamento é a própria prática (realidade). O ser humano conhece as coisas na medida em que as produzem daí toda teoria se tornar lacunar (obscura ou oculta), sem o “vaivém” entre o fato e o pensado, entre o fazer e o pensar.
O discurso ideológico impede que o oprimido tenha uma visão própria do mundo, da realidade em que vive, porque lhe “impõe” (direta ou indiretamente) os valores da classe dominante, tornados universais. Além disso, “naturaliza” as ações humanas, explicando-as como decorrentes da “ordem natural das coisas” e não como o resultado da injusta repartição dos bens (acumulados pelo processo de produção histórica ou pela dinâmica social e econômica).

 

 

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